quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Juan Diaz Bordenave: O Resgate Da Utopia

Por: Wilson Corrêa da Fonseca Júnior


Resumo

Este trabalho tem por objetivo resgatar a trajetória do pensamento comunicacional de Juan Diaz Bordenave, com ênfase na área de Comunicação Rural. A partir de referências bibliográficas sobre o autor, de entrevista por ele concedida e da análise de obras por ele escritas, procura-se realizar a contextualização histórica e teórica de suas idéias. A obra de Bordenave parece adquirir um novo vigor nos dias atuais, quando analisada sob o calor do da maior participação da sociedade nos destinos da nação, da postura do governo brasileiro de resolução dos problemas essenciais no país e do estímulo à democratização das novas tecnologias, temas muito caros a esse autor paraguaio, que chegou a ser definido como um “plantador de utopias”.

Palavras-chave

1. Comunicação Rural; 2. Comunicação para o Desenvolvimento;

3. Escola Latino-americana de Comunicação

Introdução - Utopia, desigualdade e mestiçagem na América Latina

Constituída por países com processos históricos semelhantes e culturas bastante próximas, a América Latina também pode ser caracterizada como uma região formada sob o signo da utopia. Nos primeiros séculos de colonização, a América Latina serviu de espelho ao imaginário europeu como manifestação do próprio paraíso terrestre. É o que revela Sergio Buarque de Holanda em Visão do Paraíso, onde procurou compreender os motivos edênicos do descobrimento e colonização do Brasil; em América Mágica, Jorge
Magasich-Airola e Jean-Marc Beer conduzem o leitor ao mundo mágico dos descobridores, com suas atenções voltadas para a fonte da juventude, as indomáveis Amazonas, os gigantes da Patagônia e tantos outros mitos quanto à imaginação fosse capaz de criar.

Sob essa perspectiva etnocêntrica inicial, os colonizadores passaram a interagir de forma assimétrica com os colonizados, num processo que resultou, pelo aspecto sócioeconômico, na exploração sistemática de todos os campos da atividade humana produtiva, que a história econômica tratou de classificar como ciclo do pau-brasil, ciclo do ouro, da prata, da cana de açúcar e que Eduardo Galeano, em As veias abertas da América Latina procurou denunciar. No decorrer desse processo, a geografia bíblica do novo mundo passa a receber contornos geopolíticos e os seres fantásticos a serem domados pelo cristianismo.

Pelo aspecto cultural, a dialética da colonização se transforma, segundo Jesus Martín-Barbero numa trama de “modernidade e descontinuidades culturais, deformações sociais e estruturas de sentimento, de memórias e imaginários que misturam o indígena com o rural, o rural com o urbano, o folclore com o popular e o popular com o massivo”1. Canclini, por sua vez, considera a América Latina como um lugar “onde as tradições ainda não se foram e a modernidade não terminou de chegar”2.

No seio dessas transformações, e também por causa delas, a América Latina ainda vive sob o signo da utopia. Não mais aquela utopia inicial projetada pelos colonizadores, embora continue sendo objeto de relações assimétricas no cenário internacional. Mas a utopia no sentido do vir-a-ser, porque ainda não se realizou plenamente, porque sua alteridade ainda não foi devidamente reconhecida e, principalmente, porque em muitos campos da atividade humana a América Latina pode ser considerada uma opção interessante entre as alternativas disponíveis no planeta. No mundo acadêmico, este é o caso do pensamento latino-americano de comunicação, cuja marca distintiva, segundo Marques de Melo, é o “hibridismo téorico e a superposição metodológica, plasmando uma  Doutorando em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo - UMESP, jornalista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA e professor do Centro de Ensino Unificado de Brasília – UNICEUB.

1 Jesús Martín-Barbero. Dos Meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de janeiro, Editora UFRJ, 1997, p.16.2 Néstor Garcia Canclini. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, p.16 singular investigação mestiça, representativa em verdade da fisionomia cultural latinoamericana ”3.

Ao mesclar os paradigmas norte-americanos aos postulados europeus e adaptandoos às condições peculiares às sociedades e culturas latino-americanas, “foi possível superar as dicotomias entre metodologias quantitativas e qualitativas, entre pesquisa crítica e pesquisa administrativa”4. Entretanto, embora ocupe um lugar privilegiado nas universidades latino-americanas, essa Escola, segundo Marques, ainda não conquistou a hegemonia devido a fatores como a “baixa estima da nossa comunidade acadêmica”, a “falta de agilidade para responder às questões postas pelos centros contemporâneos de decisão, localizados nas empresas ou no setor público” e a “recusa ao mercado”5.

Entre os representantes mais legítimos da Escola Latino-americana de Comunicação encontra-se Juan Diaz Bordenave. Natural do Paraguai, país a que se sente profundamente vinculado, Bordenave possui uma trajetória profissional e acadêmica que o levou a acompanhar o desenvolvimento das correntes teóricas norte-americanas e européias, bem como a interpretá-las à luz da realidade latino-americana, sobre a qual é profundo conhecedor. Respeitado internacionalmente, já produziu obras basilares, que se tornaram objeto de uma dissertação de mestrado, defendida por Márcia Franz Amaral 6. Seu percurso intelectual foi traçado por Guilherme Jorge de Rezende que, após conhecer melhor sua vida e seu pensamento, chegou a defini-lo como um “plantador de utopias”7. Mas o que seria exatamente a utopia de Juan Diaz Bordenave? Como essa utopia se manifesta em seu trabalho? Qual o significado dessa utopia para o Pensamento Comunicacional Latinoamericano?

3 José Marques de Melo. Escola Latino-americana de Comunicação: gênese, desenvolvimento e perspectivas.

In: Marques de Melo, José; Gobbi, Maria Cristina (org.). Gênese do Pensamento Comunicacional Latinoamericano: o protagonismo das instituições pioneiras CIESPAL, ICINFORM, ININCO. Anais da Escola Latino-americana de Comunicação, 3. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, Cátedra UNESCO de Comunicação para o Desenvolvimento Regional, 1999, p. 23.4 José Marques de Melo, idem, p.305 José Marques de Melo, idem, p.24 .6 Márcia Franz Amaral. A Comunicação Rural na obra de Juan Diaz Bordenave. Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, 1993 (dissertação de mestrado em Extensão Rural). Posteriormente, essa dissertação foi resumida por sua autora no artigo “Juan Diaz Bordenave e a comunicação para o meio rural”, também de 1993. 7 Guilherme Jorge de Rezende. O plantador de utopias: a vida e a obra de Juan Diaz Bordenave. Comunicação & Sociedade 25 (São Bernardo do Campo, IMS, 1996), p. 69-93

Para apreender o conceito de utopia no pensamento de Bordenave e em seus escritos, faz-se necessário, inicialmente, resgatar e atualizar algumas informações fundamentais sobre sua vida e obra, já abordadas nos trabalhos citados anteriormente, e que são apresentadas a seguir.

A vida, a obra e a utopia de Juan Diaz Bordenave  Juan Diaz Bordenave nasceu no Paraguai, em 5 de fevereiro de 1926, na cidade de Encarnación, fronteira com a Argentina. Filho do médico Carlos Diaz Leon e de Juanita Bordenave, mudou-se para a capital Assunção, logo em seus primeiros meses de vida, depois que um ciclone devastou sua cidade natal. Da convivência em família, Bordenave se espelha na integridade do pai, que chegou a ser diretor da Sanidade Militar durante a Guerra del Chaco (1932-1935) mas se tornou perseguido político após um golpe militar, exilando-se na Argentina; de sua mãe, herdou a intensa fé no cristianismo, tornando-se católico praticante e simpatizante da Igreja Progressista; de ambos, recebeu a vocação da leitura. Em 1954, conhece sua futura mulher nos Estados Unidos, a brasileira Maria Cândida Diaz Bordenave, especialista em tradução, com quem gera seis filhos de nacionalidades diversas: João e Maria (brasileiros), Paulo e Enrique (peruanos), Francisco (mexicano) e Verônica (costa-riquense).

Formado em Agronomia pela Escola Nacional de Agricultura, na Argentina, Juan Diaz Bordenave possui mestrado em Jornalismo Agrícola, obtido em 1955 na Universidade de Wisconsin, com um estudo sobre programas de alfabetização na América Latina. O título de Phd em Comunicação veio em 1966, pela Universidade do Estado de Michigan, com uma tese de doutorado sobre a procura de informação instrumental por camponeses da localidade de Timbaúba, situada a duas horas de Recife, no Brasil. Sua carreira profissional foi construída em paralelo à formação acadêmica. Entre 1956 e 1980 trabalha no Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA, como especialista em Comunicação Rural. Nesse período mora em quatro países: Costa Rica, México, Peru e Brasil. Bordenave também exerceu a atividade docente, como professor visitante de cursos de Pós-graduação, em várias universidades brasileiras (Viçosa, UNB, UMESP) e de outros países latino-americanos (Universidade Católica do Paraguai, Universidade Central da Venezuela e Universidade Javeriana de Bogotá), além de trabalhar como consultor em órgãos da ONU e da OEA. Esta atividade, aliás, é a que mais lhe satisfaz atualmente.

Segundo os levantamentos feitos por Amaral e por Rezende, em suas respectivas obras8, a produção teórica de Juan Diaz Bordenave é formada por livros, participação em coletâneas, artigos em revistas especializadas e materiais didáticos. Na década de 1970 Bordenave publica três livros. Em 1977 surgem “Communication and Rural Development” editado em Paris pela UNESCO e “Estratégias de Ensino-Aprendizagem”, escrito conjuntamente com Adair Martins Pereira, também publicado na Costa Rica. Em 1979, de sua parceria com Horácio Martins de Carvalho chega às livrarias “Comunicação e Planejamento”, também editado no Equador. No ano seguinte, organiza o livro “Educação Rural no Terceiro Mundo”, conjuntamente com Jorge Werthein. Nessa mesma década, participa da coleção Primeiros Passos, da editora Brasiliense, com “O que é Comunicação” (1982), “O que é Comunicação Rural” (1983), também publicado no México, e “O que é Participação” (1983), também editado na Argentina. Nesse mesmo ano surge “Além dos meios e mensagens”, seguido de “Teleducação ou Educação a Distância”, este publicado em 1987. Em 1990 edita “Modernização da Agricultura e Cooperação Internacional”, pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA. Em 1993 a produção de Bordenave, entre livros, textos, apostilas e artigos catalogados, foi estimada por Marcia Franz Amaral em 50 obras, mas o próprio autor, em entrevista concedida para este trabalho, afirma já haver superado uma centena de obras.

Na entrevista concedida a Rezende, Juan Diaz Bordenave não se considera um teórico com idéias próprias, mas um bom articulador e divulgador de teorias elaboradas por outros autores: “Sempre fui um prático da comunicação que precisou da teoria e apelou a ela só em nível suficiente para entender, para ajudar o público rural ao qual eu servia”9. Sua obra, entretanto, tem subsidiado trabalhos acadêmicos e dissertações de mestrado nas áreas de educação, comunicação, extensão e sociologia rural. Segundo Amaral10, a comunicação destinada ao meio rural tem sido pensada de modo bastante fragmentado e precário, mas as
reflexões feitas por Bordenave são exceção, porque marcadas pela vigilância epistemológica. Suas inúmeras fases teóricas demonstram “a riqueza do processo de auto-8 Márcia Franz Amaral, op.cit.; Guilherme Jorge de Rezende, op.cit. 9 Guilherme Jorge de Rezende, op.cit., p.8510 Marcia Franz Amaral, op.cit. superação de um autor ao perceber que seus entendimentos já não não servem para compreender o mundo que o cerca ou para que seu trabalho prático evolua no sentido desejado”11.

Influenciado até os anos de 1960 pelo behaviorismo de Skinner, que reduz os fenômenos psíquicos às ações do organismo, e pelo difusionismo de Everett Rogers, Bordenave afasta-se dessas concepções na década seguinte para adotar a perspectiva construtivista de Jean Piaget, bem como as idéias de Frank Gerece, Paulo Freire e Luis Ramiro Beltrán, passando a adotar a Pedagogia Problematizadora por considerá-la a mais adequada à situação latino-americana. Nesse modelo, o professor atua como um facilitador da aprendizagem, na qual também é aprendiz, de forma a valorizar o processo de transformação operado pelo aluno, enquanto agente transformador da realidade. Outras idéias, entretanto, Bordenave continua utilizando por considerá-las úteis, como a Teoria do Sistemas.

Nos últimos anos, o ex-franciscano Leonardo Boff tem lhe servido como ponto de referência teórica, principalmente no que se refere à missão das faculdades de comunicação. Neste caso, Bordenave enumera quatro pontos vitais para a adequação das faculdades de comunicação à realidade da América Latina: 1) a necessidade de desenvolver uma nova missão, na medida em que as faculdades têm perdido a consciência sobre seu papel, condicionadas pelas pressões do mercado; 2) uma integração mais orgânica das três
funções clássicas da universidade, ensino-pesquisa-extensão; 3) a reforma curricular e 4) a adoção de uma pedagogia problematizadora12.

Em seu artigo sobre Bordenave, uma das principais críticas feitas por Marcia Franz Amaral é sua visão sistêmica da comunicação e da educação, na medida em que pressupõe a existência de um sujeito ahistórico, concebido como parte do sistema. Por outro lado, considera louvável a discussão levantada pelo autor sobre o problema da incomunicação rural, que ainda se coloca como um desafio para os comunicadores. Guilherme Jorge de Rezende, por sua vez, afirma que sua principal contribuição para as Ciências da
Comunicação é a “capacidade de captar e reordenar idéias que outros formularam. Assim o faz, como um agricultor que combina sementes a procura de uma espécie híbrida mais produtiva. A semente resultante, embora contenha os elementos das que a compuseram, é 11 Marcia Franz Amaral, op.cit. nova, única. Talvez aí esteja a originalidade de Bordenave”13. Além disso, revela que “por trás de todo o pensamento de Bordenave, permeando-o, está o conceito de utopia, que ele acha imensamente necessária”14.

Uma leitura atenta da obra de Juan Diaz Bordenave é capaz de revelar o quanto de utopia está impregnado seu trabalho. As vezes, não é preciso nem mesmo chegar ao prólogo de alguns de seus escritos para essa constatação. No artigo que escreveu para uma coletânea sobre educação rural, por exemplo, o próprio título de imediato anuncia:

“Comunicação e educação: o que Deus uniu o homem não separa”15; em “O que é Comunicação” ele dedica seu livro a Jesus de Nazaré, “o mais completo comunicador da história, porque foi, ao mesmo tempo, fonte, meio, signo e mensagem”16; em “Comunicação e planejamento”, obra que valoriza a importância desses dois processos sociais para a promoção do desenvolvimento, encontra-se a seguinte afirmação:

Podemos sentir individualmente um grande entusiasmo pela igualdade, pela participação, pela solidariedade e pela liberdade. Porém, se voltarmos os olhos para nossa história e para as estruturas sociais e institucionais que dela emergiram, comprovaremos imediatamente que temos um inimigo dentro de nós mesmos, que nos obriga, se pretendermos construir um mundo melhor, a ‘nascer de novo’, como Cristo exigiu de Nicodemos para alcançar a salvação17.

Como se pode observar nesses exemplos, a visão utópica de Bordenave se deve muito à herança materna da fé no Cristianismo, que ele mesmo reconhece. “Jesus disse: ‘sede perfeito como Vosso Pai celestial é perfeito’. Ele colocou uma espécie de sonho impossível como uma meta para todo mundo. Então, é utópico”18. Em termos políticos, sua utopia é “uma sociedade autogestionária, uma economia autogestionária, que não é nem 12 Guilherme Jorge de Rezende, op.cit, p.88 13 Idem, p.9114 Idem, p.9015 In: Jorge Werthein e Juan Diaz Bordenave (org.). Educação rural no terceiro mundo: experiências e novas
alternativas, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1981, p.23816 Juan Diaz Bordenave, O que é comunicação, São Paulo, Brasiliense, 1991, p.617 Juan Diaz Bordenave e Horácio Martins de Carvalho, Comunicação e planejamento, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979, p.36.18 Apud Guilherme Jorge de Rezende, op.cit., p.90
socialista nem capitalista (...) um modelo que converge com o Cristianismo”19. Sua adesão às idéias de igualdade, participação, solidariedade e liberdade, ancoradas por uma profunda ética cristã, será responsável por torná-lo um dos maiores especialistas em Comunicação Rural, reconhecido internacionalmente. Sua inserção nesse contexto é o que será discutido a seguir.

A utopia na Comunicação Rural

Definir o estatuto epistemológico da Comunicação Rural com todas as suas implicações é um problema ainda não resolvido no ambiente acadêmico, pois a discussão sobre a especificidade do rural como objeto de estudo vem sendo travada na área sociológica desde os anos de 1930, chegando aos dias atuais sem solução. Por um lado, existem textos clássicos, como é o caso de “Diferenças fundamentais entre o mundo rural e urbano” de Sorokin20, Zimmerman e Galpin que confirmam essa especificidade. Por outro lado, existem pesquisadores como Schneider, para quem “o rural não é uma categoria de análise e tampouco um conceito analítico, ele é apenas uma noção espacial”21. Diante de problemas como esse Bordenave prefere se colocar como um prático da comunicação que necessita da teoria e a ela recorre em nível suficiente para entender e promover o objeto concreto de suas preocupações: o desenvolvimento rural nos países do terceiro mundo, principalmente na América Latina.

Para levar adiante sua proposta de Comunicação Rural, Bordenave precisou se defrontar com questões mais prementes como, por exemplo, estimular a convergência entre dois campos que para ele nasceram juntos – Comunicação e Educação – e que, a seu ver, foram separados artificialmente, decorrendo em sérias conseqüências: “constata-se facilmente, por exemplo, que são muitos os comunicadores que não percebem que estão 19 Guilherme Jorge de Rezende, op.cit., p.9020 É importante observar que Pitirim A. Sorokin (1889-1968), sociólogo russo naturalizado norte-americano, desenvolveu pensamento próprio, sendo considerado, ao lado de Tönnies, um dos teóricos responsáveis pelo desenvolvimento da sociologia. O texto em questão encontra-se inserido dentro dos community studies por ter sido elaborado em parceria com Charles J. Galpin, importante precursor dessa corrente. 21 Sergio Schneider. Da crise da sociologia rural à emergência da sociologia da agricultura: reflexões a partir da experiência norte-americana. Cadernos de Ciência & Tecnologia – v.14, n.2 maio/ago. (1997). Brasília, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, 1997, p.250. educando quando comunicam e os educadores que não sabem comunicar”22. Para Bordenave, essa integração entre Comunicação e Educação poderia favorecer a “conscientização, a politização, a organização dos agricultores, visando ajudá-los a perceber e articular seus problemas e necessidades e a reivindicar ajuda externa dos serviços oficiais”23. Nesse contexto, os meios de comunicação, antes usados apenas como canais de informação e veículo de persuasão, seriam empregados como “ferramentas de diagnóstico da problemática social, de colocação de problemas, de aglutinação comunitária, de auto-expressão individual e coletiva, de interaprendizagem, de negociação e reivindicação etc”24. Concretizar essa visão, entretanto, significava nadar contra uma corrente bastante forte na Comunicação Rural da América Latina – o difusionismo – que, mesmo versando sobre conhecimentos agronômicos, auxiliou na modificação de valores, anseios e costumes, transformando o agricultor em consumidor, na medida em que haviam interesses econômicos nas técnicas difundidas25.

A compreensão sobre o difusionismo e sua inserção na América Latina é fundamental para contextualizar e valorizar a atuação de Juan Diaz Bordenave no pensamento Latino-americano. Conforme levantamento feito por Fonseca Júnior26, difusionismo é o termo utilizado para designar várias linhas teórico-metodológicas de
orientação funcionalista, surgidas nos Estados Unidos a partir dos anos de 1940 sob o nome de diffusion research, voltadas para a difusão de inovações tecnológicas no campo27.

Influenciado no início pela Sociologia Rural, o difusionismo incorporou, na década de 1960, os estudos de Comunicação Social, quando os próprios sociólogos norte-americanos 22 Juan Diaz Bordenave. Comunicação e educação: o que Deus uniu o homem não separa. In: Jorge Werthein e Juan Diaz Bordenave (org.). Educação rural no terceiro mundo: experiências e novas alternativas, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1981, p.24023 Idem, p.24324 Idem, p.24325 Marcia Franz Amaral, Juan Diaz Bordenave e a comunicação para o meio rural, p.326 Wilson Corrêa da Fonseca Júnior. Alô Pantanal: estudo sobre a relação entre um programa de rádio e três comunidades rurais no município de Corumbá-MS. São Bernard o Campo, Universidade Metodista de São Paulo, 1998, p.3-35 (dissertação de mestrado), 27 Historicamente, o difusionismo apresenta três versões sucessivas  Modelo de Difusão, Modelo de Programa de Pacotes e Modelo de Inovação  que contemplam desde a simples transmissão de mensagens
até a comunicação com e entre todos os níveis de um país em processo de desenvolvimento agrícola. Uma
visão geral sobre o assunto pode ser encontrada em KEARL, Bryant E. “Comunicação para o Desenvolvimento Agrícola”. Comunicação e Sociedade, 15. São Bernardo do Campo, Instituto Metodista de Ensino Superior, 1987, p.71-95. já manifestavam suas primeiras críticas àquela corrente e questionavam com maior ênfase a especificidade do rural como categoria analítica.

Entre as críticas verificadas nos Estados Unidos em relação a diffusion research, algumas pareciam prenunciar as decorrências da implantação desse modelo na América Latina, como seu caráter excessivamente institucionalizado, em que técnicos agrícolas e burocratas definiam os objetos de pesquisa e a prioridade dos assuntos a serem investigados. Outra restrição, relacionada à anterior, era que o sistema de pesquisa agrícola estava estruturado para beneficiar as grandes corporações e agroindústrias e não a maior
parte do público interessado, que seriam os agricultores28.

A propósito dessa colocação, não deixa de ser sintomático que a ascensão do difusionismo coincida com o surgimento de uma nova concepção econômica sobre a agricultura – o agribusiness – em que a produção rural passa a ser concebida como elemento da cadeia agroalimentar, que contempla atividades antes da porteira (produção de insumos como adubos, rações e sementes), dentro da porteira (produção de animais e lavouras, extração vegetal etc.) e depois da porteira (processamento agroindustrial e consumo final dos produtos, entre outros)29. Nesse contexto do negócio agrícola, a produção rural tem sua participação econômica diluída e o agricultor tem sua importância relativizada.

Ao comentar sobre o esforço de modernização tecnológica no campo, promovido no Brasil por organizações governamentais como a Embrapa, a Embrater (extinta no governo Collor) e as empresas estaduais de pesquisa e extensão rural, Barbosa faz a seguinte reflexão:

“Seria ingênuo classificar como fracassada a larga aplicação das teorias de mudança social dirigida e, entre elas, as teorias difusionistas, apoiadas nos estudos de comunicação social. Elas foram eficientes, competentes e eficazes, do ponto de vista da lógica do capital. Um dado irrefutável é que, já na década de 70, a economia brasileira e, especificamente, o setor rural estavam perfeitamente integrados ao circuito do mercado internacional, cumprindo eficazmente a sua cota-parte na divisão internacional do trabalho e sustentando, “rigorosamente”, os pesados serviços da dívida externa que havia sido contraída.”3028 Consideradas bastantes contundentes por Schneider, essas críticas foram elaboradas por Jim Hightower, em
seu livro “Hard tomatoes, hard times”, de 1973. Conforme SCHNEIDER, Sergio. op.cit., p. 236.29 José Luis Tejon Mejido e Coriolano Xavier. Marketing & Agribusiness. São Paulo, Atlas, 1994. p.27-32.

Na década seguinte, porém, o paradigma internacional de desenvolvimento,centrado no enfoque dutivista31, esgotou-se, arrastando em sua crise os modelos nacionais decorrentes. No Brasil, essa nova conjuntura, associada ao processo de redemocratização do país e à falência financeira do Estado, levou à maior participação da iniciativa privada na área de ciência e tecnologia e à mobilização popular em torno de
questões agrárias, ambientais e de consumo. Em decorrência, o estilo de comunicação (e conseqüentemente de poder) até então adotado pelas organizações governamentais de pesquisa, assistência técnica e extensão rural passou a ficar ameaçado pelas regras de mercado e pelo questionamento da sociedade sobre a finalidade das pesquisas agropecuárias32.

Ainda nessa mesma década, durante o XI Congresso Brasileiro de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – INTERCOM, realizado em 1988, que teve como tema central a Comunicação Rural, Juan Diaz Bordenave fez uma reavaliação sobre a situação dessa disciplina na América Latina. Sob o aspecto conceitual, ele constatou que a Comunicação Rural ainda servia para designar o mesmo que “a tradicional Informação Agrícola (grifo do autor), a qual consistia na difusão unilateral de informações, normas e
recomendações técnicas do Governo para os agricultores”33. Diante disso, Bordenave procurou refletir sobre as decorrências dessa visão naquele momento histórico, propondo uma nova definição para a Comunicação Rural, e também desmistificou o discurso idealista de instituições como a UNESCO e a FAO, valorizando experiências bem sucedidas de instituições como o CIESPAL.

Nessa oportunidade, Bordenave levantou várias questões não resolvidas sobre a Comunicação Rural, como, por exemplo:

30 Walmir de Albuquerque Barbosa. A questão agrária e a comunicação rural no Brasil. São Paulo, Universidade de São Paulo, 1986, p. 153 (tese de doutorado) 31No enfoque produtivista o padrão de concorrência econômica ocorre unicamente via preço e o padrão tecnológico é centrado apenas na dimensão quantitativa do conceito de produtividade. Os anos de 1990 passaram a registrar a consolidação de várias tendências, como o novo padrão de concorrência via preço, qualidade e diversificação, e novo padrão tecnológico centrado na demanda por quantidade, qualidade, diversificação e sustentabilidade. Conforme EMBRAPA. Secretaria de Administração Estratégica. II Plano Diretor da EMBRAPA: 1994-1998. Brasília, EMBRAPA-SPI, 1994. 32Preocupada com essa nova conjuntura, a Embrapa mobilizou suas unidades centrais e descentralizadas para a criação e implantação de uma política de comunicação. Ver EMBRAPA. Política de Comunicação. Brasília, EMBRAPA-SPI, 1996 e EMBRAPA.Política de Comunicação. Brasília, EMBRAPA-SPI, 2002 (2a edição). 33 Juan E. Diaz Bordenave. Comunicação rural: discurso e prática. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE COMUNICAÇÃO, 11., 1988, Viçosa. Conferência. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa / Sociedade Brasiliera de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 1988, p.12.

“- A Comunicação Rural é basicamente uma atividade do Estado ou da sociedade?

- Constitui sua finalidade principal a transferência de tecnologia ou tem outras funções importantes?

- O melhor comunicador rural profissional é um agrônomo ou veterinário que aprende a comunicar ou um comunicador social que aprende agricultura e pecuária?

- A publicidade que fazem as empresas vendedoras de insumos para a agricultura pode ser considerada uma atividade de comunicação rural?”34 A partir desses questionamentos, o autor definiu a Comunicação Rural como o “conjunto de fluxos de informação, de diálogo e de influência recíproca existentes entre os componentes do setor rural e entre eles e os demais setores da nação afetados pelo funcionamento da agricultura, ou interessados no melhoramento da vida rural”35. Logo a seguir, analisou os fluxos mais típicos que, a seu ver, compõem o amplo processo da Comunicação Rural, como a “articulação de necessidades e problemas entre os agricultores e apresentação dos mesmos para instituições que possam ajudá-los na solução”; o que ocorre “entre os agricultores e os serviços de apoio, tais como os de pesquisa agropecuária,
extensão rural, crédito agrícola, reforma agrária etc”; o fluxo “entre os serviços de apoio à agricultura” e o fluxo representado pela “educação radiofônica” em vários países daAmérica Latina36.

Finalmente, Juan Diaz Bordenave concluiu que a Comunicação Rural “somente cumprirá seu enorme potencial quando nossos países adotarem uma política global de desenvolvimento que conceda à agricultura e ao desenvolvimento rural uma prioridade superior à atualmente concedida à indústria”37. Além disso, também seria necessário “realizar uma estratégia de desenvolvimento que Jacques Chonchol, ex-ministro da
Agricultura do Presidente Allende, do Chile, chama de VALORIZAÇÃO INTEGRAL DO ESPAÇO RURAL (grifo do autor). A estratégia consiste em reduzir a enorme diferença que existe na atualidade entre o setor urbano e o setor rural de nossos países, no que tange à renda média recebida pelos respectivos habitantes, bem como à quantidade e qualidade dos serviços sociais que ambos os setores usufruem”38.34 Juan Diaz Bordenave, Comunicação rural: discurso e prática, op.cit., p.1235 Idem, p.12.36 Idem., p.14-18
37 Idem, p.2138 Idem, p.21

Nos anos de 1990, Juan Diaz Bordenave passa a se interessar pela agro-ecologia, defendendo a adoção de tecnologias que protejam o meio ambiente e tornem a agricultura um meio para o desenvolvimento  sustentável. Em seus trabalhos de consultoria, continua adotando a pedagogia problematizadora como, por exemplo, no assessoramento a escolas de enfermagem em diversas cidades brasileiras, na medida em que a mudança do papel da enfermeira na sociedade, agora voltada à atuação comunitária, requer uma visão mais  dialética.39. Atualmente, na entrevista para esta comunicação, Bordenave afirma estar envolvido num trabalho de consultoria em sua terra natal, o Paraguai, com o objetivo de promover o desenvolvimento rural daquele país. Ou seja, Bordenave continua desempenhando seu papel de incansável “plantador de utopias”.

Análise dos resultados e conclusão

A análise da vida e da obra de Juan Diaz Bordenave leva a uma certeza e a duas grandes questões que permanecem em aberto. A grande certeza é que Bordenave jamais deixará de ser um utópico na busca de relações horizontais entre os homens e na promoção do desenvolvimento dos países do terceiro mundo, principalmente da América Latina.

Quanto às duas questões que permanecem em aberto elas são as seguintes:

O estatuto epistemológico da Comunicação Rural – O que sustentaria a alteridade da Comunicação Rural diante das demais ciências sociais, particularmente da comunicação? Qual a especificidade do rural diante da industrialização da agricultura, da presença cada vez maior dos meios de comunicação no campo e do exercício de atividades não agrícolas no meio rural? Enquanto uma disciplina aberta a novos enunciados, a
Comunicação Rural seria, necessariamente, sinônimo de Desenvolvimento Rural ?

A missão das faculdades de comunicação - as faculdades de comunicação, segundo Bordenave, têm perdido a consciência de seu papel, condicionadas pelas pressões do mercado. Mas seria possível nos dias de hoje, contemplar uma perspectiva de ensino que 39 Antonio de Andrade. Comunicação: integração e desenvolvimento na América Latina: desunidos sobreviveremos? In: Marques de Melo, José; Gobbi, Maria Cristina (org.). Gênese do Pensamento Comunicacional Latino-americano, op.cit. não leve em consideração a demanda das indústrias culturais? Além disso, qual o lugar da Comunicação Rural atualmente nas universidades latino-americanas?

Submetida historicamente a relações assimétricas no cenário internacional, a América Latina vive hoje o dilema de ser obrigada a se enquadrar a um processo de globalização de mão única, em que a divisão internacional do trabalho, definida no século XIX pela bipolarização entre países produtores de matéria prima e países industrializados, foi substituída pela divisão entre países ricos e pobres40. Nesse contexto, os países latinoamericanos são obrigados a se adequar às regras da economia e da política internacionais,
ao mesmo tempo em que precisam enfrentar problemas básicos internos, como o acesso de sua população às condições mínimas de subsistência. Certamente, a reavaliação sobre o papel da Comunicação Rural e das faculdades de comunicação passa pela reflexão sobre esse contexto. E talvez a solução seja justamente adotar a concepção dialética de Bordenave. Nos casos em que se verifica uma grande ênfase no mercado, refletir sobre o papel da comunicação na sociedade; nos casos em que se verifica uma grande ênfase na
sociedade, refletir sobre a relação da comunicação com o mercado. Não seria essa, afinal, a postura característica de um legítimo latino-americano?

Bibliografia

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